OBS IMPORTANTE:
A história não está completa, disponibilizamos apenas os três primeiros capítulos para degustação.
Paula
ficou parada na frente da porta automática, pensando... Durante um tempo que
jamais conseguiria determinar.
Só depois
a atravessou e deixou o hospital, com a decisão definitiva: da mesma forma,
sairia da vida de Letícia.
Ia
esquecê-la. Mesmo se para isso precisasse... De quê? Ainda não sabia, mas
iria... Na verdade precisava descobrir. O que não podia, não suportava mais,
era ficar presa a falsas esperanças, sofrendo por um amor que tinha terminado,
por uma pessoa que... Não estava nem aí.
Chegou em
casa e continuava tudo igual: o irmão jogando videogame na sala com os amigos,
a irmã brincando no quarto dela, os pais sem terem chegado de seus respectivos
trabalhos...
Doeu.
Mais ainda... A percepção do quanto o que sentia parecia
tolo, não fazia diferença, não tinha a menor importância, como era estúpida e
irreal a impressão, a sensação que tinha, de que o mundo pararia e terminaria
só porque tinha o coração ferido.
Sangrava...
Mas apesar
disso, a vida prosseguia.
Cabia a
ela trocar os curativos até que cicatrizasse. Deixando uma marca, bem verdade.
Serviria
para lembrar e sinalizar para que, da próxima vez, tomasse mais cuidado.
Quando
entrou no próprio quarto, foi pior ainda. O espaço há muito tinha deixado de
ser só dela, estava repleto de lembranças.
O primeiro
beijo...
A primeira
vez...
Três anos
de namoro, noites e dias intensos. Brigas, reconciliações e por fim...
O término.
Nem de
olhos fechados conseguia deixar de sentir. Estava ali, em cada objeto, por
todos os lados, quase palpável. Para onde quer que olhasse.
Letícia...
Letícia... Letícia...
Na
verdade, pior, muito pior...
A ausência
dela.
Fechou e
trancou a porta, os olhos cheios de lágrimas que se tornaram soluços. Algo tão
corriqueiro nos últimos dois meses que quase já tinha se tornado um ritual.
Mas ao contrário de todos os outros dias depois que Letícia tinha terminado com
ela, não se deitou na cama, não mergulhou no redemoinho até que ele a puxasse
totalmente para o fundo.
Sem parar
de chorar - mas sem nenhuma apatia naquele choro - começou a recolher todos os
presentes, bilhetes, fotografias que encontrava, foi jogando tudo dentro da
lixeira do quarto.
Era
pequena demais.
Rapidamente
começou a transbordar...
Parou com
o cd de Belle & Sebastian na mão. Olhou para a dedicatória na capa:
“Esse é só
o início da nossa trilha. Se depender de mim, eternamente juntas. Paula, você é
o amor da minha vida!”
E
lembrou...
Do dia, o instante
exato em que o tinha recebido.
Letícia
estendendo para ela, com um sorriso incrível... O beijo que se seguiu, e que
perdurou... Enquanto se despiam... Se descobrindo, se encontrando, se
revelando...
Juntas...
De um
jeito assumidamente masoquista, colocou o cd na última faixa: "There's too Much Love", a mesma que
havia embalado vários momentos de amor das duas, começando por aquele primeiro.
Durante um
instante que pareceu infinito, ficou parada, apenas ouvindo...
Sem
conseguir explicar, muito menos controlar o que estava sentindo.
Foi num outro
tom, inteiramente enfurecido, que abriu o armário. E arrancou dos cabides, tirou
das gavetas... A calcinha que Letícia mais gostava que usasse, a que tinha
tirado dela com os dentes, a blusa que estava vestindo no aniversário dela, o
vestido que fazia Letícia olhar para ela de um jeito deliciosamente tarado...
O armário
estava quase vazio quando percebeu que, seguindo esse pensamento, todas as
roupas que tinha precisariam ser descartadas.
Começou a
rir no meio do choro que ainda não havia cessado... Levou as mãos à cabeça, as
palmas na testa...
E
gargalhou...
Da mesma
maneira descontrolada como se deixou cair ajoelhada em cima do monte que as
roupas tinham formado no chão, a dor ganhando uma nova companhia: a raiva...
Que a fez repetir, vezes e vezes sem parar:
- Filha da
puta! Filha da puta! Filha da puta!
Enquanto
batia em si mesma... No peito, nos braços e na cara... Até que a exaustão
finalmente a fez deitar e permanecer ali, imóvel...
Largada
sobre a própria frustração e mágoa, na escuridão mais profunda, silenciosa e
vazia.
Continuava
ali, no mesmo lugar, quando horas depois, a mãe bateu na porta:
-
Paulinha... Abre...
Levantou e
fez o que a mãe pediu, sem acender a luz. Inútil. Ela enxergava além.
Passou a
mão no rosto dela carinhosamente. Depois a abraçou com força:
- Ah... Eu
não consigo te ver assim... E não falar nada...
Beijou-a,
segurou o rosto da filha entre as mãos e completou:
- Olha pra
mim, Paula. Conversa comigo. Ou você não confia mais em mim?
Involuntariamente,
Paula se soltou e recuou:
- Não se
trata de confiar, mãe... É só que... Tem coisas que... Eu não tenho como falar
pra ninguém, nem pra você.
Não
adiantou. Na verdade, só piorou. A mãe acendeu a luz, viu o quarto todo
revirado e... Assustou-se:
- O que
aconteceu aqui?
Com um
sangue frio que nem sabia possuir, Paula respondeu:
- Eu só
estava tentando reorganizar...
O tom que
a mãe usou fez Paula ter certeza de que ela tinha captado o dito e o não dito.
Tudo que havia contido na frase:
- Parece
que passou um furacão, uma tormenta... Ou quem sabe... Um tormento.
Entrou e
fechou a porta atrás dela antes de finalmente dizer:
- Eu
fiquei sabendo que você foi ver a Letícia no hospital. Como ela está?
Antes que
pudesse formular a pergunta que tinha na ponta da língua, a mãe completou:
- O seu
irmão me contou.
Amaldiçoou
internamente o momento de desespero quando Leonardo ligou. Deixando-a não só
incapaz de mentir ou fingir, mas também... Fora de si a ponto de chorar e falar
com Felipe, o bestinha fofoqueiro de quatorze anos. Sem nem se tocar que, como
sempre, o punheteiro iria correndo entregar tudo para a mamãe.
- Eu não
vi a Letícia. Mas ela tá bem.
Olhou para
a mãe e não aguentou:
- A
namorada dela estava lá...
Foi o que
bastou para começar a chorar. A mãe a abraçou, mas não disse nada. Ficou
calada, escutando Paula:
- Ah,
mãe... Eu ainda tinha esperança... Eu achava que... Ela ainda me amava... E a
gente ia voltar... Mas depois de hoje... Ela... A Letícia tá em outra, eu...
Também preciso... Mas eu não consigo... Eu não sei como...
Os soluços
a impediram de continuar a falar. Deixou-se beijar, abraçar e acariciar,
absolutamente fraca, como se voltasse a ser criança e precisasse do colo e dos
conselhos dela.
- Filha...
Isso vai passar.
Paula se
sentiu... Totalmente idiota e infantil. Expressou isso com toda a sinceridade,
enquanto fungava e soluçava:
- Eu... Eu
sei que... É bobagem...
A mãe fez
com que ela a olhasse:
- Não é bobagem.
Nunca deixe ninguém, nem você mesma, dizer que o que você sente é bobagem.
Beijou-a
antes de prosseguir, com a mesma seriedade:
- É
importante sim. Agora. Mas daqui a pouco não vai ser mais.
Deixou que
a mãe limpasse e enxugasse o rosto dela com as mãos, enquanto pensava... No quanto
ela estava certa e tinha razão.
Estava
quase tranquila quando os olhares voltaram a se encontrar.
- Paula, sabe
o que nós vamos fazer? Encontrar alguma coisa que possa te dar prazer e te
alegrar.
Olhou em
volta e foi totalmente perspicaz:
- Roupas
novas?
Arrancou
de Paula um meio sorriso...
- Trocar a
sua cama?
Que
cresceu e se tornou inteiro quando a mãe arrematou:
- Vamos
mudar toda a arrumação do seu quarto!
Paula
estava sorrindo de verdade quando abraçou a mãe:
- Ah,
mãe... Obrigada...
Assim que
Paula chegou à escola, Sarah e Vitor a interceptaram no corredor. Não fizeram
rodeios:
- A
Letícia está aí.
A ausência
dela havia se prorrogado por alguns dias depois do acidente, brindando Paula
com uma estranha espécie de alívio... Que agora, chegava ao fim.
Não foi
sincera com os amigos:
- E eu com
isso?
Mas eles a
conheciam:
- Achamos
melhor te avisar...
- Pra você
não entrar na sala e ter uma... Surpresa.
Ainda
assim, continuou fingindo. Na esperança vã de que assim talvez conseguisse...
Convencer a si mesma:
- Pra mim
tanto faz. Não tô nem aí.
Sorriu...
E voltou a caminhar... Em direção ao inferno que ainda duraria alguns dias, até
as aulas terminarem e, com elas, o ensino médio.
Vitor e
Sarah apenas se entreolharam antes de a seguirem.
Respirou
fundo antes de atravessar a porta. Assim que entrou na sala, viu Letícia.
Como se
sentisse a presença de Paula, ela se virou... Os olhos se encontraram... E
Letícia sorriu.
Fazendo
Paula sentir-se... Idiota e fraca...
Foi com
muito esforço que desviou os olhos e dirigiu-se a uma das mesas. As pernas
bambas, as mãos trêmulas, a boca seca... Precisava se sentar...
Antes que
atingisse seu objetivo, ela a alcançou:
- Oi!
Engoliu em
seco, esperando que ninguém, principalmente ela, notasse:
- Oi.
Como se
tivessem vontade própria, os olhos a buscaram, subiram pelo corpo de Letícia,
até encontrarem os olhos, a pulsação disparando, da mesma forma involuntária...
- Obrigada...
Por você ter ido lá no hospital...
Paula não
foi capaz de responder.
Felizmente,
Vitor e Sarah a salvaram:
- Letícia!
Tudo bem?
- Como
você tá?
Letícia
virou-se para eles sorrindo:
- Melhor
impossível!
Não ouviu
o resto.
Sentou-se,
com a certeza de que aquele final de semestre seria... Torturante.
Felizmente,
passou rápido, muito mais rápido do que Paula poderia supor, imaginar ou
esperar.
Paula deixou
escapar um suspiro antes de tomar mais um gole da long neck que segurava. Olhou para Sarah, que estava sentada no
sofá ao lado dela, aos beijos com a namorada.
A
felicidade da amiga a deixava numa estranha dualidade de sentimentos. Feliz por
ela, mas... Ao mesmo tempo... Aquilo parecia apontar, exacerbar, deixar ainda
mais sensível a solidão em que se encontrava.
Desde a formatura, dois anos atrás, nunca mais tinha visto Letícia. Feliz ou infelizmente, não sabia ao certo. Cursavam faculdades diferentes e os amigos em comum haviam se dividido, como bens repartidos, então não tinham mais nenhum contato.
Depois que ela e Letícia haviam terminado, tinha ficado com outras garotas - poucas - feito sexo com um número menor ainda... Apenas duas. Na verdade, tinham sido momentos efêmeros e superficiais. Nenhum que a fizesse sentir... O que realmente desejava. Exatamente por isso, fazia mais de seis meses que... Nada.
Levantou e
se afastou... Sem que ninguém reparasse. Caminhou pela festa, passando entre as
pessoas como tinha feito durante os últimos vinte e quatro meses: como se não
estivesse ali de verdade.
Foi até a
sacada, afastou-se do casal que se agarrava num canto. A última coisa que
queria era atrapalhar... Quem tinha o que lhe faltava.
Debruçou-se
na murada, olhou para a rua, observou com uma desatenção despreocupada os carros
que passavam lá embaixo. Bebeu mais da cerveja que ainda segurava... E riu...
Em parte de si mesma... Em parte por ter bebido um pouco além do que estava
acostumada...
- Será que
eu posso rir com você?
Ficou
absolutamente sem graça.
Até olhar
para a garota que sorria para ela, de um jeito que deixou Paula incrivelmente
interessada.
Já a tinha
visto várias vezes na faculdade. Estava em um dos últimos semestres de... Odontologia,
talvez? Não tinha muita certeza. Só sabia que ela dividia apartamento com a
melhor amiga da namorada de Sara, já tinha até ido numa festinha na casa delas.
Vasculhou
a memória à procura do nome... Mas não precisou se esforçar. Ela estendeu a
mão, como se lesse seus pensamentos:
- Natália.
Colocou a
mão na dela e... Estranhamente, o simples contato das peles fez a voz soar
fraca:
- Paula.
Nenhuma
das duas retirou a mão, muito pelo contrário. Natália apertou a de Paula de
leve:
- Eu sei o
seu nome... Faz um tempinho já.
Voltou a
sorrir. Paula correspondeu sem nem sentir... Os olhos igualmente colados.
Nenhuma
das duas disse mais nada, aproximaram-se, atraídas por uma força
irresistível...
Quando as
bocas se encontraram, Paula não conseguiu compreender de imediato, por que...
Derrubava todas as certezas que tinha... De que não sentiria aquilo com ninguém
mais...
Não foi
capaz, nem quis pensar no que significava ou deixava de significar.
Entregou-se...
Permitiu-se
ser tragada, mergulhou sem pudores, barreiras ou ressalvas no prazer que o
toque dela causava...
Quando deu
por si estava encostada na parede, os dois corpos se friccionando de uma forma
deliciosamente incendiária...
Natália
subiu a boca pelo pescoço dela e sussurrou, com a mesma arfante dificuldade que
Paula sabia que também teria se tentasse falar:
- Vamos...
Pra minha casa?
Concordou
com um aceno de cabeça, sem soltá-la.
Foi Natália
que se afastou, apenas o suficiente para colocarem as roupas no lugar. Depois
segurou Paula pela mão e a puxou pela sala em direção à saída. Antes que a
alcançassem, Paula se viu obrigada a pará-la:
-
Espera... Eu preciso muito ir no banheiro.
Natália
sorriu:
- Tá. Te
espero aqui.
A urgência
dupla fez Paula ser rápida. Felizmente não havia fila, em questão de poucos
minutos já estava saindo do pequeno lavabo, pronta para voltar para Natália.
Assustou-se.
Ficou
inteiramente paralisada.
Quando se deparou
com Letícia, tão perto da porta que, quando a atravessou, praticamente caiu em
seus braços.
- Paula...
Foi a
única coisa que Letícia disse, antes de segurar Paula pela cintura, puxá-la
para si e beijá-la...
Por mais
que Paula soubesse que deveria... Que precisava...
Foi impossível
resistir.
A fraqueza
a derrotou com uma força inabalável, que respondia única e exclusivamente à
saudade, à vontade, à incapacidade de negar a própria necessidade.
Naquele
momento, a razão pareceu abandoná-la.
A única
coisa que importava era a boca, os lábios, a língua, as mãos... A perfeição do
encaixe, da fusão, da fissão...
A
respiração que se alterava, entrando num ritmo que repetia: Letícia...
Letícia... Letícia...
Com os
braços enlaçando-a pelo pescoço, a única coisa que Paula conseguiu fazer foi deixar...
O corpo
inteiro se entregar, se arrebatar, se extasiar...
Como se ali,
com ela, a existência começasse e terminasse.
- Vem
comigo.
Letícia
sussurrou, fazendo com que Paula voltasse a si. Gaguejou um protesto fraco:
- Não, eu...
Não...
Abriu os
olhos bem a tempo de ver... Natália parada a alguns metros, olhando para as
duas, antes de virar-se e afastar-se.
Ficou
absolutamente dividida... Entre correr atrás de Natália e desculpar-se... Ou
permanecer nos braços de Letícia.
- É sua
namorada?
Não foi a
pergunta, mas a resposta que fez com que se decidisse:
- Não.
Letícia
estava diferente.
Não só por
ter carro, ou por ter mudado o estilo de roupas que usava, mas... Paula não
sabia definir de uma maneira exata, não passava de uma sensação, algo abstrato.
Como se
percebesse o que Paula estava pensando - pelo menos em parte - Letícia olhou
para a própria roupa, fez uma careta e tentou se justificar:
- Vim
direto do estágio.
Paula
apenas acenou com a cabeça, preferindo não revelar para Letícia... O quanto ela
ficava linda vestida de um jeito mais formal.
- A Júlia
acha que nunca é cedo para se começar a trabalhar e a minha mãe concorda com
ela, claro! Como sempre... Em gênero, número e grau.
Riu com
uma ironia quase ácida, a mesma que usou ao completar:
- Mas não
posso reclamar, muito pelo contrário. Afinal, ela me arrumou o estágio perfeito,
exatamente no telejornal que eu queria.
O olhar de
Paula... Disse mais do que mil palavras. Letícia compreendeu de imediato:
- Eu gosto
da Júlia. Ela faz a minha mãe feliz de verdade.
Impossível
para Paula deixar de dizer:
- Não foi
o que pareceu.
Letícia
tentou se esquivar:
- É
complicado demais, não sei explicar.
Mas Paula pediu:
- Tenta?
Depois de um suspiro, Letícia falou:
- Ah, sei
lá... Só falei assim por que é com você, foi tipo... Uma espécie de desabafo.
Com qualquer outra pessoa eu mediria minhas palavras.
Não era,
nem de longe, o que Paula queria saber. Insistiu:
- Não quer
me contar?
Foi a vez
de Letícia pedir:
- Vamos
mudar de assunto?
Num tom
que fez Paula desistir:
- Tudo bem.
Mas era
claro que não estava.
Um
silêncio absolutamente incômodo se estabeleceu.
Foi Paula
que o interrompeu:
- Pra onde
estamos indo?
Quando
Letícia pegou um caminho desconhecido.
- Pra
minha casa.
Ela
sorriu... Lindamente... Antes de completar:
- É mais uma
longa história, quer escutar?
Paula nem
precisou pensar, estava verdadeiramente interessada:
- Claro.
O tom que Letícia
usou foi impessoal, quase distanciado:
- Meu pai casou
de novo e se mudou. Então vendemos o apartamento, o Léo comprou um e eu comprei
outro. Com a ajuda da minha mãe, óbvio. Mais uma das muitas vantagens de ter
Júlia Prantine como madrasta. Dinheiro não é problema.
O jeito
que Letícia disse a última frase... Fez Paula voltar a questioná-la:
- Então
qual é?
Letícia
compreendeu. Para Paula era claro. Ainda assim, tentou disfarçar:
- O quê?
Paula foi
direta, não mediu as palavras:
- O seu problema.
Letícia
riu... De um jeito assustadoramente amargo:
- Nenhum. Sou
uma afortunada.
Paula não teria
insistido, nem perguntado mais nada. Foi Letícia que completou, num tom
completamente diferente, doce e suave:
- Eu sinto
a sua falta.
Depois
disso, Paula não viu o apartamento, na verdade ela não viu nem quis ver mais nada...
Além de Letícia... Era só ela que interessava.
As roupas
caíram lentamente, bem devagar... Em meio a milhares de beijos e carícias sem
pressa alguma, estavam as duas no mesmo ritmo absolutamente sensorial...
Gosto,
cheiro, som, tato...
E a imagem...
Da pele ao
desnudar-se...
Até
ficarem inteiramente despidas... De si mesmas e parecer que... Somente uma na
outra... Era a única forma de se reencontrarem...
- Paula...
Paula... Eu te amo... Paula...
Letícia
repetiu, ondulando sobre e sob a boca, o corpo, as mãos, os dedos, a língua de
Paula... De forma incansável...
E Paula
correspondeu, acolhendo-a e acompanhando-a integralmente, ofegando com a mesma
vibrante, veemente e cúmplice intensidade:
- Eu também, Le... Te amo muito... Demais...
Compartilharam
aquele amor que julgavam perdido... Sem limites, barreiras ou entraves... Durante
aquela noite inesquecível, que pontuou uma passagem...
A
consciência da diferença que existia... Entre o que queriam, o que poderiam....
E a
realidade.
Acordaram
com a campainha tocando sem parar e batidas furiosas na porta:
- Letícia!
Eu sei que você está aí! Letícia, abre!
Paula
sentou na cama, instintivamente enrolada no lençol, e olhou para Letícia, que
deixou escapar baixinho:
- Puta que
o pariu...
Antes de
levantar e começar a se vestir.
Perguntou
o que já sabia:
- Quem é?
Apenas
para que Letícia constatasse:
- A minha
namorada.
GOSTOU?
Leia inteiro! Adquira o seu:
postado originalmente em 29 de Setembro de 2014 às 18:00.